Nada do que eu fizer, nada do que eu disser será
suficiente para mudar o mundo, ando cansada das mesmas caras nas ruas, dos
mesmos sorrisos pela metade, dos mesmos abraços gélidos, simples formalidade,
soa como sinônimo de educação, acho mesmo é que gosto das pessoas mal educadas,
mal interpretadas só por saberem que abraço não é mecânico é alma. Gosto das
pessoas que são capazes de ficar zangadas comigo e com raiva do mundo. Dos meus
poucos amigos que me olham nos olhos e me dizem que estou errada.
Estou farta de ver poesia onde há dor, meus olhos
não aguentam ver as ruas “incolor”, será possível que não tenha cheiro ou
sabor? Andar vagarosamente me rasgam as retinas, acho que assim como alguns
ando infectada desse mundo doente, ando querendo ver cores por onde passar.
Sempre quis mudar o mundo, não sozinha, essa vontade nasceu quando encontrei
companheiros que acreditam ser possível um mundo novo. Enquanto esse mundo não
chega tento respirar esse ar poluente.
Acho que ainda quero esse mundo que me fizeram
acreditar, ele é tão simples que não consigo compreender como ainda não existe.
Mundo onde as pessoas não são números, são simplesmente gente visível aos olhos
da sociedade. Que as cores celebrem de fato igualdade entre todos os seres,
sendo homens ou mulheres de todas as cores e lugares. Um mundo em que ser
homossexual não seja motivo para morrer espancado por bárbaros. Que as diferenças
de sotaque sejam motivo de orgulho, queria poder ouvir música boa em qualquer
estação de rádio, mas o que ouço é apenas esculhambação, violência.
Estou cansada de tantos gritos não ouvidos, noite e
dia essas vozes me acompanham, reclamam da TV que prende e te faz acreditar
numa beleza que se compra e você jura que pode parcelar em mil tua felicidade
que não passa de material ela vem com seus sonhos de consumo. Quero sentir a
terra e ver crianças correndo nas ruas ao invés de estarem na frente de uma
tela competindo pra ver quem mata mais em jogos absurdos.
Hoje tenho medo de ter filhos só por não saber se
ele ou ela terá amigos que o afaguem em abraços e que troquem confidencias, não
sei se suportaria ver meus filhos com amigos virtuais e se não tiver pele para
ele ou ela? E se não tiver terra e chuva para que sinta que é tão natureza quanto
os rios, pássaros, ar. E se não entender que não é máquina? Ando querendo o
mundo que sempre quis. Ando com medo do mundo.
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